27 de setembro de 2009

PRIAPISMO


O que é?
É uma ereção persistente (mais de 4 horas), freqüentemente dolorosa, desencadeada ou não pela atividade sexual. O nome priapismo vem da mitologia grega na qual Príapo, filho de Afrodite, era conhecido pelo seu falo longo e ereto. É uma emergência urológica!
A sua ocorrencia é baixa: 1,5 casos por 100000 habitantes por ano. Em homens acima dos 40 anos, a incidência aumenta para 2,9 por 100000 habitantes por ano.
Como se desenvolve?
O priapismo pode ocorrer em qualquer idade. Na adolescência está muitas vezes associado à doenças do sangue, como a leucemia e anemia falciforme. Nas demais idades, geralmente é idiopática (sem causa específica). Nos idosos pode estar associada a neoplasias. Vários fatores estão relacionados como possíveis causadores de priapismo: abuso de álcool ou drogas, traumas genitais, doenças inflamatórias. A causa idiopática (desconhecida) é a mais freqüente. A utilização de drogas injetadas diretamente no pênis (no corpo cavernoso) a fim de provocar ereções tem aumentado a freqüência de priapismos. Dentre essas drogas, a que causa mais priapismo é a papaverina.
O que se sente?
O paciente queixa-se de uma ereção que não regride e é acompanhada geralmente de dor.
Como o médico faz o diagnóstico?
O diagnóstico é simples baseado na história do paciente. Ao exame físico, nota-se uma ereção do pênis sem a participação da glande ("cabeça" do pênis) e dos corpos esponjosos (tecido que envolve a uretra). Logo, se trata de uma ereção dos corpos cavernosos exclusivamente.
Como se trata?
Existem dois tipos de priapismo. O priapismo de baixo fluxo (venoclusivo), mais frequente. Está associado à diminuição do retorno venoso. É doloroso devido à má oxigenação do pênis. O outro tipo é o de alto fluxo (arterial), menos frequente. É indolor e geralmente causado por trauma peniano.
Através da análise do sangue coletado do pênis diretamente (gasometria dos corpos cavernosos) tem-se uma diretriz para o tratamento, que pode se constituir em:

aspiração do corpo cavernoso (drenagem)
aspiração do corpo cavernoso com injeção de drogas vasoativas (vasoconstritores)
aspiração e lavagem do corpo cavernoso
tratamento cirúrgico (a fim de criar comunicações entre o corpo cavernoso e corpo esponjoso)
Nos casos em que não há resolução do priapismo ou que este permaneceu várias horas sem tratamento, ocorre a fibrose dos corpos cavernosos com comprometimento futuro das ereções. A única solução é a prótese peniana.
Como se previne?
Como na maioria das situações o priapismo é idiopático, fica difícil a prevenção. Os pacientes que usam drogas intracavernosas para promover a ereção devem ser alertados para o risco de priapismo. Se a ereção perdurar por mais de 2-3 horas após a aplicação da droga, um serviço de emergência ou um urologista deve ser procurado. Nos casos em que o priapismo é ocasionado por drogas via oral, estas deverão ser evitadas. Para pacientes com doenças sanguíneas, a hidratação, oxigenação, alcalinização, transfusões e outras alternativas mais específicas são necessárias.
Perguntas que você pode fazer ao seu médico
O que causa essa doença?
É transmissível?
Pode causar câncer?
Pode causar impotência? Posso ter relações sexuais?

26 de setembro de 2009

Pacientes com anemia falciforme são beneficiados com uso do NAT


Teste aumenta segurança nas transfusões de sangue.

Os pacientes que sofrem de anemia falciforme, doença hereditária de grande incidência no Brasil, estarão reunidos esta semana no III Seminário Estadual de Doença Falciforme, para esclarecer dúvidas e discutir novas tecnologias que possam ajudar no controle da doença. Entre os temas discutidos, está a importância do teste NAT (Teste de Ácido Nucléico) para o aumento da segurança e da qualidade do sangue doado aos portadores da doença. De acordo com Juliana Rivello, representante da Associação Brasileira dos Bancos de Sangue do Rio de Janeiro (ABBS-RJ), “a implantação do NAT garante maior segurança transfusional sendo, portanto, essencial para os pacientes com anemia falciforme que necessitam de grande número de transfusões”, afirma.

Diferente dos testes utilizados na maioria dos hemocentros públicos do país, o NAT reduz a chamada janela imunológica, período em que o vírus permanece indetectável no organismo. O exame investiga o material genético do vírus, reduzindo o tempo de detecção do HIV para cerca de 11 dias e, do HCV (vírus da hepatite C), para 20 dias, garantindo assim um controle mais eficaz das bolsas de sangue. Atualmente, o teste mais usado é o Elisa, que verifica a presença de anticorpos contra o vírus no organismo e detecta o HIV em, aproximadamente, 22 dias após a infecção, e o HCV, em cerca de 70 dias.

Para Gilberto Santos, presidente do Instituto Brasileiro de Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias (IBraFH) e organizador do evento, é fundamental que se divulgue a tecnologia do NAT. “Para nós, seria uma vitória importante se o teste do NAT fosse utilizado em todos os hemocentros públicos do país, pois proporcionaria menos riscos aos pacientes falcêmicos”, revela.

A anemia falciforme é a doença hereditária mais comum do Brasil. A doença originou-se na África e foi trazida às Américas pela imigração dos escravos. No Brasil, distribuiu-se heterogeneamente, sendo mais freqüente onde a proporção de antepassados negros da população é maior, como na região Nordeste. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estimam o surgimento de cerca de mil novos casos anuais de doenças falciformes no país.

. [ III Seminário Estadual de Doença Falciforme – dias 20 e 21 de agosto (das 9h às 17h), dia 21 de agosto (sexta-feira), às 11h30: Palestra “A importância do NAT”, com Juliana Rivello – representante da ABBS-Rio. Auditório do Hospital dos Servidores do Estado (HSE) – Rua Sacadura Cabral, 178, Saúde (RJ). Inscrições e mais informações em www.ibrafh.org].

Transplante pode curar anemia falciforme


FERNANDA BASSETTE
da Folha de S.Paulo
A Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea acaba de concluir o consenso que inclui a anemia falciforme entre as doenças que têm indicação de transplante de medula óssea. As novas orientações serão publicadas na "Revista Brasileira de Hematologia".
A elaboração do documento levou em consideração dados da literatura internacional, que apontam cura dos doentes tratados com transplante. É considerado curado o paciente que não desenvolve mais a doença depois de cinco anos.
Atualmente, esse tipo de procedimento não consta da lista de indicações do Ministério da Saúde, por isso ele ainda não é coberto pelo SUS. Os cerca de dez transplantes realizados no Brasil foram feitos em caráter experimental, em centros especializados. No mundo, foram realizados cerca de 400.
A anemia falciforme, que atinge principalmente a população negra, é uma das doenças genéticas mais frequentes no país. Ela costuma ser diagnosticada clinicamente, por causa da anemia. Em alguns Estados brasileiros, o diagnóstico é feito durante o teste do pezinho.
Arte/Folha de S. Paulo
Veja acima os problemas causados pela anemia falciforme aos glóbulos vermelhos e como funciona o transplante
Veja acima os problemas causados pela anemia falciforme aos glóbulos vermelhos e como funciona o transplante
A doença provoca mudanças no formato das hemácias (glóbulos vermelhos) --em vez de serem redondas, passam a ser rígidas e a ter formato de foice.
Isso causa dois problemas: quando o organismo detecta a anormalidade, passa a destruir as hemácias, o que leva à anemia crônica. Além disso, o formato de foice dificulta a circulação e facilita a formação de coágulos, aumentando o risco de AVC e de trombose.
O tratamento atual envolve uso de medicamentos e também transfusões de sangue para corrigir a anemia. "O problema é que esses pacientes estão sujeitos aos riscos da transfusão crônica e à sobrecarga de ferro no sangue", diz o hematologista Luís Fernando Bouzas, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca (Instituto Nacional de Câncer).
De acordo com Bouzas, já existe uma experiência razoável de transplantes em anemia falciforme no exterior. Ele ressalta que a indicação é adequada em alguns casos específicos.
Bouzas diz que a SBTMO recomenda o transplante para pacientes que já apresentam algum grau de deficit neurológico, que já sofreram ao menos um episódio de AVC, que tenham doença vaso-oclusiva grave ou que sejam resistentes ao tratamento padrão.
"Estimamos que cerca de 20% dos pacientes com anemia falciforme terão a indicação para o transplante. A discussão com o Ministério da Saúde tem como objetivo beneficiar essas pessoas", afirma.
O hematologista Vanderson Rocha, diretor-científico do Projeto Eurocord, é um dos defensores do transplante nesses casos. Segundo Rocha, o Hospital Saint Louis, na França, já realizou 54 transplantes do tipo, sendo que 53 pacientes são considerados curados e apenas um rejeitou o transplante.
"Os resultados são muito bons, essas pessoas estão curadas. Três anos de tratamento com drogas e transfusões de sangue correspondem ao preço do transplante", afirma.
O imunologista Júlio Voltarelli, responsável pela Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, concorda. Ele já tratou cinco pacientes com transplante e todos os resultados são positivos. "O Brasil tem uma população enorme de negros e afrodescendentes. Muitos seriam beneficiados", diz.
Apesar de ser uma alternativa promissora, o transplante tem algumas limitações: o paciente precisa encontrar um doador na família (30% de chances), pois, como a técnica não é regulamentada, não é possível buscar pessoas compatíveis nos cadastros.
"O processo [de transplante] custa cerca de US$ 30 mil. Esse é um custo que o Ministério ainda não cobre para esse tipo de doença", afirma Voltarelli. Além disso, o transplante também tem uma fase crítica, com risco de morte por causa da baixa imunidade do paciente. "O transplante não é para todos. O médico tem que avaliar os reais riscos e benefícios."
O Ministério da Saúde informou, em nota, que ainda não incluiu a anemia falciforme na lista de indicações de transplante, pois acredita que os estudos ainda não apresentam evidências suficientes para recomendar a disponibilização da técnica de forma irrestrita.
A pasta informou, ainda, que pretende iniciar um protocolo de pesquisa para avaliar a eficácia e a segurança da técnica. Os pacientes seriam acompanhados em centros de referência escolhidos pelo ministério.

NYT: Vacinas de países ricos podem salvar vidas na África, sugere estudo


Donald G. McNeil Jr.
The New York Times
Na África, mais de 90% das crianças com anemia falciforme morrem antes do diagnóstico da doença.

Um novo estudo, publicado na semana passada pelo jornal britânico "Lancet", mostrou que bactérias invasivas são uma das causas de morte mais frequente essas crianças. E que muitas dessas bactérias eram do mesmo tipo que aquelas que afetam os jovens em países ricos, onde há vacinas para combatê-las.

As descobertas sugerem que novas vacinas antibacterianas usadas no mundo desenvolvido poderiam salvar a vida de muitas crianças na África, escreveram os autores. Vacinas antigas contra sarampo, caxumba e pólio são baratas, mas as novas vacinas antibacterianas, como Hib e Prevnar, são geralmente muito mais caras, limitando seu uso em países pobres.

Os pesquisadores também afirmaram que administrar antibióticos a essas crianças como medida preventiva poderia salvar vidas. No entanto, a medida é controvérsia, porque se teme que o uso dos remédios possa gerar bactérias mais resistentes.

Os cientistas coletaram sangue de mais de 38 mil crianças que deram entrada em um hospital no Quênia e foram examinadas para verificar se tinham infecção bacteriana ou anemia falciforme. Eles descobriram que crianças com anemia falciforme desenvolveram infecções severas com uma frequência cerca de seis vezes maior que as crianças sem a doença.

O estudo foi patrocinado pela Wellcome Trust, uma fundação britânica pioneira dedicada à assistência à saúde no terceiro mundo.

A característica da célula falciforme em parte protege as crianças contra a malária, mas a anemia falciforme é extremamente dolorosa e muitas vezes fatal. Um em cada 600 americanos negros possui a doença; em algumas partes da África, mais de uma criança em cada cem sofrem o problema.

Tradução: Gabriela d'Avila

25 de setembro de 2009

ANEMIA FALCIFORME


FORMAS DA DOENÇA FLCIFORME

Hb A1
HbA2
Hb F
Hb C
Hb S
SS
0
< 3.5
2 – 20%
0
80 – 95%
SC
0
-
1 – 5%
45 – 50%
45 – 50%
S beta
0
3.5 – 7%
2 – 15%
0
80 – 92%
S beta+o
5 – 30%
3.5 - 6%
2 – 10%
0
65 – 90%
AS – traço
50 – 60%
<3.5%
<2%
0
35 – 45%
Normal
95 – 98%
<3.5%
<2%
0
0
Outras formas mistas: S –D; S – E; S – lepore; S – quebec - chori

ASPECTOS GERAIS
A Anemia Falciforme tem origem desconhecida, mas provavelmente desenvolveu-se na África, milhões de anos atrás. Protege as pessoas contra malária, doença comum e séria nos países de clima quente.
No Brasil estima-se que 3 de cada 100 pessoas são portadoras de traço de Anemia Falciforme e 1 em cada 500 negros brasileiros nasce com uma da doença
Embora haja uma incidência na raça negra, os brancos, particularmente os que são provenientes do mediterrâneo ( Grécia, Itália, etc. ) Oriente médio, Índia, apresenta, doenças.
Diante deste quadro é possível deduzir-se que a miscigenação racial no Brasil está gerando a continuidade desta anemia, conforme ratifica a literatura brasileira, apontando de forma contundente que anemias hereditárias no país constituem um grave problema de saúde publica.

A DOENÇA
A doença Falciforme é doença genética e hereditária, causada por anormalidade de hemoglobina dos glóbulos vermelhos do sangue, responsáveis pela retirada do oxigênio dos pulmões, transportando-o para os tecidos. Esses glóbulos vermelhos perdem a forma discóide, enrijecem-se e deformam-se, tomando a forma de " FOICE ". Os glóbulos deformados, alongados, nem sempre conseguem passar através de pequenos vasos, bloqueando –os e impedindo a circulação do sangue nas áreas ao redor. Como resultado causa dano ao tecido circunvizinho e provoca dor. O curso da doença é variável. Há doentes que apresentam problemas com mais freqüência e outros têm problemas esporádicos de saúde.
Geralmente é durante a Segunda metade do primeiro ano de vida de uma criança que aparecem os primeiros sintomas da doença. Exceção é feita nos casos onde o exame de sangue – para detecção da doença – foi realizado já no nascimento ou no berçário. Até atingir a idade escolar é comum a doença se manifestar, é raro isso não ocorrer.
A Anemia Falciforme não deve ser confundida com o traço falciforme. Traço falciforme significa que a pessoa é tão somente portadora da doença, com vida social normal.
O defeito genético constitui basicamente a substituição do Ácido Glutâmico pela Valina na posição seis da cadeia beta da hemoglobina.
PADRÃO DE HEREDITARIEDADE
A forma comum da Anemia Falciforme ( Hbss ) acontece quando uma criança herda um gene da hemoglobina falciforme da mãe ou do pai . É necessário que cada um dos pais tenha pelo menos um gene falciforme, o que significa, que cada um é portador de um gene da hemoglobina falciforme e um gene da hemoglobina nomal.
Como a condição de portador do traço falciforme é um estado benigno, muitas pessoas não estão cientes de que o possuem. Quando duas pessoas portadoras do traço falciforme resolvem ter filhos, é importante que saibam que para cada gestação há possibilidade de um para quatro de que a criança tenha doença falciforme ; há possibilidade de uma em duas de que a criança tenha o traço da hemoglobina e a chance de um em quatro de que tenha a hemoglobina normal.
O traço falciforme não é uma doença. Significa que a pessoa herdou de seus pais a hemoglobina ( A ) e ( S ). Como recebeu um tipo do pai e outro da mãe é ( AS ).
È importante saber: filhos de duas pessoas com traço falciforme podem nascer com anemia falciforme, daí a importância de fazer exames.
  • 25% normal (AA)
  • 50% traço falciforme ( AS)
  • 25% de anemia falciforme ( SS )
PROBABILIDADE GENÉTICA
Para pais ( AS)
  • 25% NORMAL ( AA )
  • 50% DE TRAÇO FALCIFORME ( AS )
  • 25% de anemia falciforme ( SS )
Para pais (AS) * ( SS )
  • 50% DE TRAÇO FALCIFORME (AS )
  • 50% DE ANEMIA FALCIFORME ( SS )
Para pais ( SS)
  • 100% DE ANEMIA FALCIFORME
Para pais ( AS) * ( AA)
  • 50% NORMAL (AA )
  • 50% DE TRAÇO FALCIFORME ( AS )
Para pais (AA ) * ( SS )
  • 100% DE TRAÇO FALCIFORME

FORMAS CLÍNICAS
Embora todo o paciente com anemia falciforme apresente a mesma mutação genética, a diversidade relativa à severidade das manifestações clínicas é notável.
Vários fatores modificantes vem sendo estudados com o intuito de definir o porquê dessa diversidade. Os mais importantes atualmente são: os níveis de Hemoglobina fetal (Hb F ), a coexistência de outras hemoglobinopatias hereditárias ( ex: talassemias ) e finalmente haplótipos para a Hb S.
Os níveis de hemoglobina fetal correspondem a menos de um por cento da hemoglobina total em indivíduos maiores de um ano de idade, porém há casos onde eles se encontram bem mais elevados devido a fatores hereditários, Esses indivíduos apresentam menor severidade dam anemia falciforme, já que as moléculas de Hb F não participam do processo de polimerização que ocorre entre as moléculas de hemoglobina S desoxigenada ( desoxi Hb S ).
A associação da doença falciforme com outras hemoglobinas hereditárias é relativamente freqüente e leva a uma diversidade de quadros clínicos, que variam desde formas assintomáticas até as mais severas. Seus mais comuns são;
1
Anemia falciforme ( doença SS ), onde os indivíduos são homozigotos para o gene da hemoglobina S
2
Traço falcifome (doenças AS ), onde o paciente possui um gene que sintetiza cadeias polipeptídicas globínicas normais ( Bª ) e um gene anormal ( Bs ), com produção de ambas as hemoglobinas (A e S ), predominando a hemoglobina A (Hb A ). Seus eritrócitos só falcilizam sob circunstância específicas como hipóxia severa, ou ao passar pela medula renal, causando hipostenúria.
3
Eritrofalcemia associada a beta talassemia
S beta o Thal: não há produção de hemoglobina beta pelo gene da beta talassemia
S beta + Thal: O indivíduo produz cadeias beta normais porém em pequenas quantidades
4
Eritrofalcemia associada a hemoglobina C, onde o paciente possui dois genes de cadeias beta alterados ( B s e B c ), o que faz com que haja a produção tanto de Hb S quanto de Hb C





Os últimos fatores moduladores conhecidos atualmente são os haplótipos da Hb S, que podem ser descritos como sítios polimórficos de endunocleases de restrição, localizados no interior e ao redor do gene da cadeia beta mutante designados de acordo com a área geográfica onde foram primeiramente identificados: Senegal, Benin, CAR ( "CENTRAL AFRICANA REPUBLIC" OU BANTU ) e Asiático ( INDU ARÁBICO ). Foi descrito também o haplótipo Cameroon, localizado apenas em um único grupo étnico na República dos Camarões.
Na América, os haplótipos mais comuns são: Senegal, Benin e CAR. Pacientes com o haplótipo Senegal, geralmente, apresentam formas clínicas mais brandas, enquanto aqueles com haplótipos CAR as mais severas. Pacientes com haplótipo Benin apresentam formas com gravidade intermediária.
O mecanismo pelo qual cada haplótipo influencia na severidade da doença permanece um mistério. Experiências comprovam que cada um deles possui níveis diferentes de hemoglobina fetal. Os pacientes com o haplótipo Senegal, por exemplo, apresentam mais de 205 de Hb F.
Os haplótipos representam uma área relativamente nova de investigação a respeito da variação da doença falciforme. Seus mecanismos ainda não foram bem caracterizados e atualmente , os antropologistas os utilizam para trançar a migração dos genes da anemia falciforme da África para o Mediterrâneo e para o continente americano.

FISIOPATOLOGIA:
Quando a hemoglobina S é desoxigenada, a substituição do ácido glutâmico pela valina na posição seis da cadeia beta resulta numa interação hidrofóbica com outras moléculas de hemoglobina, desencadeando uma agregação em grandes polímeros
A polimerização da hemoglobina S desoxigenada é o evento primário na patogênese molecular da doença falciforme, resultando na distorção da forma da hemácia e diminuição acentuada da sua capacidade de se deformar.
Após ser repetidamente submetida a afoiçamento na micro circulação as célula pode perder a capacidade de retornar a sua forma discóide bicôncava normal. Esses eritrócitos siclêmicos irreversíveis provavelmente resultam da perda ou do enrijecimento de porções da membrana a medida em que o citoesqueleto da membrana eritrocitária é danificado. Afoiçamento repetidos podem também levar a formação de inclusões com características morfológicas de pequenos corpúsculos de Heinz. Essas inclusões se ligam a membrana e são parcialmente responsáveis pela destruição prematura dessas hemácias.
O fenômeno de afoiçamento dos eritrócitos e responsável por todo o quadro fisiopatológico apresentado pêlos pacientes com anemia falciforme.

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
O diagnóstico de anemia falciforme deve ser considerado, principalmente em pacientes de cor negra que se apresentem com anemia hemolítica.
Inicialmente, pode –se lançar mão de um exame inespecífico como o hemograma, que normalmente revela anemia na maioria das vezes normocrômica e normocítica ( podendo ser hipócrônoca e eventualmente macrocítica ), além de sinais indiretos de hemólise caracterizados por hiperbilirrubinemia indireta e retilocitose. Leucocitose com neutrofilia moderada não necessariamente relacionada a infecção e tyrombocitose completam o quadro hematológico, notadamente durante as crises vaso-oclusivas. Plaquetopenia pode ocorrer em quadros de seqüestro esplênico.
O esfregaço de sangue periféricos também é bastante útil, podendo apresentar anisopoiquilocitose e policromasia.
É a eletroforese de hemoglobina que estabelece o diagnóstico. Pacientes com anemia falciforme ( homozigotas ) apresentam cerca de 2 a 20% de Hb F e 2 a 4% de Hb A2. O restante é Hb S. A Hb A não é detectada a menos que o paciente tenha sido transfundido nos últimos 4 meses.

QUADROS ASSOCIADOS

ANEMIA HEMOLÍTICA
Anemia normocrômica moderada ou grave está presente durante toda a vida do paciente com doença falciforme. Ela resulta do defeito intra-corpuscular que acelera a destruição eritrocitária, independente da idade das células. Como conseqüência há hipératividade medular compensatória com hiperplasia do setor eritropoiético. Ocorre também o aumento da bilirrubina indireta na sangue periférico e consequentemente icterícia.
O equilíbrio entre esta destruição das hemácias e a resposta compensatória eritropoiética medular permite que os pacientes se adaptem as cifras hematimétricas toleráveis e compatíveis com as atividades diárias.
As crises hemolíticas representam o agravamento súbito do fenômeno de hemólise sendo raras e freqüentemente associadas a fatores precipitantes como infecções, deficiências de G6PD, hipóxia, desidratação e seqüestro esplênico.
A causa mais freqüente de agravamento da anemia é decorrente de insuficiência medular geralmente associado a infecções, comprometendo o precário equilíbrio que existe entre a destruição eritrocitária aumentada na circulação periférica e a tentativa de compensação efetuada pela medula óssea em resposta a hipóxia e traduzida citologicamente pela hiperplasia eritróide. O exemplo mais dramático de bloqueio na compensação medular é a crise aplastica secundária à infecção pelo parvovírus B 19.
Transfusões sangüíneas podem ser vitais quando ocorre o desenvolvimento de anemia severa sintomática, sendo recomendadas em pacientes que apresentam dispnéia grave, taquicardia intensa, e astenia incapacitante entre outros sinais clínicos de gravidade. Normalmente administra-se ácido fólico para esses pacientes.

CRISES ÁLGICAS
São ocasionadas pela injúria isquêmica tecidual resultante da obstrução do fluxo sangüíneo pelas hemácias afoiçadas. A dimiuição do fluxo sangüínea leva a hipóxia regional e acidose que intensifica o afoiçamento.
Essas crises podem ser desencadeadas por: hipóxia, febre, acidose, desidratação ( as hemácias se desidratam e falcilizam ), menstruação, apnéia do sono e exposição ao frio. Eventualmente os pacientes relatam como fator desencadeante ansiedade, depressão e exaustão física. Porém, em grande parte dos casos não é possível identificar o evento precipitante. A freqüência e a severidade das crises variam de paciente para paciente, assim como seu tempo de duração.
O fenômeno álgico, as vezes de grande intensidade, se manifesta em geral por dor músculo-esquelética, torácica ou abdominal, podendo todavia se originar em qualquer tecido, sendo necessário estabelecer seu diagnóstico diferencial com outras causas de dor, ligadas ou não a hemoglobinopatia S.
As crises dolorosas em geral representam a medida de severidade da doença e têm se correlacionado com a incidência de morte precoce no adulto.
O tratamento da crise álgica deve ser iniciado o mais rápido possível evitando o desgaste física e mental do paciente em decorrência de dor intensa persistente. Além das medidas para este alívio, o combate aos fatores precipitantes também devem ser realizado.
Estudos recentes demonstram que casos de dor leve a moderada respondem com grande melhora quando o tratamento é feito em casa com analgesia oral, aumento da ingesta hídrica, aquecimento, repouso e massagem local. Os pacientes devem ser orientados a iniciarem a analgesia com paracetamol. Em caso de persistência de dor, o uso de antiflatatórios não esteróides, seguido de fosfato de codeína pode levar a regressão do quadro álgico. Caso contrário, a hospitalização para o uso de opióides mais potentes se faz necessário.


INFECÇÕES:
Infecções severas são a maior causa de mortalidade e morbilidade nos pacientes com anemia falciforme . Os sítios mais comuns de infecção são pulmões, o trato gênito urinário, sistema nervoso central, ossos e articulações. Em crianças, são comuns as septicemias e meningites por microorganismos encapsulados, como o Streptococcus pneumoniae por organismos estéricos e Staphilococcus aureus. È comum também a ocorrência de osteomielite por Salmonella sp. Hà diversas razões possíveis para essa propensão acentuada:
1
Atividade fagocitária alterada do sistema reticuloendotelial, principalmente em crianças com hipoesplenismo funcional.
2
Vaso oclusão dificultando a chegada de leucócitos até a área isquêmica
3
Deficiência de opsonização, por alterações na atividade de fixação da partícula C3 do sistema complemento
4
Deficiência na de granulação de leucócitos polimorfonucleares
Crianças com anemia falciforme aparentemente não possuem maior susceptividade a infecções virais, mas estas predispõem a criança a infecção bacteriana subsequente. Devemos lembrar porém que a infecção pelo Parvovírus B19 é a principal causa de crise aplástica no paciente com doença falciforme. O vírus infecta eritroblasto em desenvolvimento, causando parada na produção de eritrócitos por1 ou 2 semanas. Em conseqüência, a concentração de hemoglobina cai drasticamente, podendo resultar em insuficiência cardíaca cogestiva ou em óbito por anemia aguda.
Toda criança com doença falciforme que venha a apresentar febre ( 38,5 Celsius) deve ser tratada tendo em vista a possibilidade de septicemia.
Recomenda-se a internação da criança e realização de hemoculturas e culturas de nasofaringe (procurando colonizando por S.pneumoniae e possível identificação de cepas resistentes).
Imediatamente deve ser iniciada antibioticoterapia empíricautilizando-se por exemplo Ampicilina ou Amoxacilina. Estudos evidenciam a Ceftriaxona como antibiótico ideal para a maioria das infecções bacterianas na anemia falciforme.
Crianças com doenças SS têm resposta imunológica normal a vacinas, sendo estas armas importantes na profilaxia das imfecções na infância. Apesar de apresentar eficácia limitada para determinados sorotipos e em crianças menores de 4 anos, a vacinação conta Pneumococos representou grande avanço na proteção da criança com anemia falciforme, assim como a vacinação contra Haemophilus. É interessante também que a criança falcêmica seja submetida a imunização contra Vírus da Hepatite B, devido ao risco elevado dessa infecção relacionado as freqüentes hemotransfusões. Tabela 2.